segunda-feira, 30 de abril de 2018

Figura(AZE): Charles Leclerc

Quando Bruno Senna e Lucas di Grassi estrearam na F1 pelas nanicas Hispania e Virgin respectivamente, para defender os dois novatos quando ambos fechavam o grid, a imprensa sempre dizia que as demais equipes estavam vendo o trabalho deles, mesmo que os resultados não aparecessem. Bruno ainda ficou na F1 por causa dos patrocinadores que o seu sobrenome trazia, enquanto Di Grassi saiu da F1 pelas portas dos fundos e tenta convencer (sem sucesso) que está dando a volta por cima na totalmente sem graça F-E. Ao contrário do que essa parte da imprensa apregoa, a F1 olha muito, sim, o resultado de um piloto novato. As equipes observam principalmente se um piloto novato está fazendo algo acima do potencial que o carro lhe dá. Alexander Wurz, por exemplo, conseguiu um pódio logo em sua terceira corrida na F1 e isso lhe garantiu dez anos na F1 sem muito brilho. Ali, o espigado austríaco fez seu nome na F1. O mesmo fez Alonso quando esteve na Minardi e o saudoso Jules Bianchi na época da Marussia/Manor. Eles fizeram o diferente com um carro ruim. Correram acima das expectativas do que seus carros poderiam lhes dar e por isso, marcaram seus nomes como pilotos diferenciados, mesmo ainda novatos. Em Baku, o monegasco Charles Leclerc fez algo no gênero. Tendo sido campeão da F2 em 2017 com ampla vantagem, Leclerc, protegido pela Ferrari, chegou à F1 com a fama de próxima joia do grid da F1. Porém, Leclerc teria que mostrar isso na Sauber, há dois anos dona do pior carro da F1. As primeiras corridas do novato não foram nada promissoras, ficando atrás até mesmo do seu fraco companheiro de equipe Marcus Ericsson. No entanto, Leclerc mostrou seu cartão de visitas em Baku. Num circuito técnico e difícil, o monegasco mostrou que quando o talento tem que aparecer, ele faz o diferente. Correndo com um carro ruim num circuito complicado, Leclerc superou com alguma margem seu insignificante companheiro de equipe e na corrida, o novato fez ainda mais. Com uma ótima largada, Charles se colocou no top-10 e sem perder posições, foi sobrevivendo às armadilhas de Baku e na última relargada estava num excepcional quinto lugar, sendo ultrapassado nas voltas finais por Carlos Sainz. O sexto lugar da Sauber é o melhor resultado da equipe em três anos e logo na sua quarta corrida de F1, Charles Leclerc mostrou que é mesmo um piloto diferenciado para o futuro.

Figurão(AZE): Red Bull

Ao longo dos anos, muito se criticou a forma como a Ferrari administrou sua dupla de pilotos, onde na maioria das vezes o primeiro e o segundo pilotos eram pré-definidos e a preferência ao escolhido como piloto principal era sempre nítida, principalmente quando as corrida estavam definidas. Casos como Hawthorn e Phil Hill no Marrocos/1958, passando por Michele Alboreto e Stefan Johansson em 1985, Michael Schumacher e Rubens Barrichello até Fernando Alonso e Felipe Massa, entre outros entraram para a história. Foram ordens de equipes polêmicas, onde posições eram mantidas ou invertidas para tristeza dos fãs e revolta dos torcedores mais fervorosos. Apesar das críticas, a Ferrari sempre se beneficiou dessa política e poucas vezes pilotos do time italiano tiveram grandes problemas entre eles dentro das pistas. Já a Red Bull prefere uma política diferente, onde os pilotos podem lutar livremente entre si e se isso faz a alegria dos fãs da F1, também já trouxe enormes prejuízos ao time austríaco, como no exemplo extremo do Grande Prêmio da Turquia de 2010, quando Mark Webber e Sebastian Vettel bateram quando brigavam por posição. Ordens de equipes são medidas impopulares e por isso mesmo as equipes evitam usar essas táticas com seus pilotos, porém, ter pulso forte sobre seus pilotos é importante para evitar perca de pontos importantes. No Azerbaijão, Max Verstappen e Daniel Ricciardo andaram a corrida inteira juntos e brigando por posição de forma dura, onde o holandês evitou com fechadas e contra-ataques as tentativas do seu companheiro de equipe de passar a frente. Ricciardo parecia mais rápido e quando finalmente conseguiu a ultrapassagem, Max surgiu à sua frente novamente quando os dois fizeram suas únicas paradas e como falou o engenheiro do australiano, ele teria que fazer tudo de novo. E Ricciardo foi para cima de novo, mas Max novamente não deixou barato. Não tinha como dar mesmo certo. Faltando poucos voltas para o fim, com pneus mais macios e novos do que os pilotos que vinham à frente, Ricciardo atacou Verstappen no final da reta dos boxes, que fechou a porta de forma enfática, não dando chance para Ricciardo terminar sua tentativa de ultrapassagem, mas deixando pouca margem para que o australiano voltasse. A batida foi inevitável. Os dois saíram da pista e destruíram o final de semana da Red Bull para fúria de Helmut Marko, que criticou bastante a atuação dos seus dois pilotos nesse episódio. Sinalizar que um piloto está mais rápido pode evitar duplo zero para as equipes e a Red Bull não soube fazer isso, garantindo um clima pesado entre seus dois pilotos bem no momento que Daniel Ricciardo, em ótima fase, pensa em mudar de ares a partir da próxima da próxima temporada. Tudo o que uma equipe quer é marcar pontos com seus dois pilotos ao final de uma corrida. A Red Bull saiu de Baku com zero pontos por causa de um toque entre seus dois pilotos onde o bom senso de alguém da cúpula do time poderia ter evitado. 

domingo, 29 de abril de 2018

Herança bendita

Quando a F1 aportou pela primeira vez em Baku em 2016, a corrida no exótico Azerbaijão tinha toda a pinta de ser mais uma herança maldita da gestão Bernie Ecclestone, que com sua enorme sanha por dinheiro, chegou junto em mais um governo ditatorial querendo aparecer no mundo e bastante disposto em gastar o dinheiro necessário com esse intuito. A primeira corrida insossa aumentou a ojeriza à Baku, que teve pouco público e emoção dentro da pista, principalmente com a catarse que havia acontecido minutos antes em Le Mans. Veio 2017 e tivemos uma corrida diferente, com várias zebras e histórias para contar. A verdade é que o circuito de rua à beira do Mar Cáspio começava a criar uma identidade. Algo que poucas pistas tem ou tiveram. No Azerbaijão, o vento forte era um fator importante num circuito de rua em que os carros atingem 330 km/h no final da reta quase infinita dos boxes, mas tem trechos bastante estreitos como na bela subida do castelo. Se em 2017 a corrida já tinha sido animada, a de 2018 foi ainda melhor, reunindo todos os ingredientes para uma corrida que já entrou para a história e terá muitas consequências, principalmente na equipe Red Bull.

A corrida foi imensa de histórias, mas começamos por Ferrari e Mercedes. Com as três equipes da ponta optando pelos pneus supermacios no Q2, ao invés dos mais rápidos ultramacios, teoricamente a corrida teria estratégias iguais para todos, mas não foi o que se viu com Vettel e a dupla da Mercedes num ritmo bem superior ao da Red Bull, enquanto Raikkonen teve um enrosco com Esteban Ocon na primeira volta e caía para as últimas posições. Porém, Vettel tinha a corrida sob controle e não era atacado pela dupla da Mercedes, enquanto Raikkonen recuperava posições, mas ficava atrás da dupla da Red Bull. Hamilton errou uma freada e teve que antecipar sua parada, voltando um pouco à frente de Max Verstappen, o que se mostraria decisivo, pois com pneus frios, Hamilton estava um pouco mais lento do que o holandês. Se a Ferrari ganhou a corrida na Austrália na base da estratégia, vacilou feio quando retardou ao máximo a parada de Vettel para colocar... os pneus macios, os mais duros do final de semana! Talvez nem os estrategistas da Mercedes acreditaram quando viram os pneus amarelos sendo montados no carro de Vettel. Bottas assumiu a liderança e com um bom ritmo, retardava um pouco mais sua parada para colocar os óbvios pneus ultramacios. Nunca saberemos ao certo se a estratégia da Mercedes funcionaria com Bottas, mas era claro que o finlandês tinha tudo para vencer a corrida, pois teria pneus bem mais rápidos do que Vettel e com tempo para ultrapassar e apagar de vez a péssima imagem deixada no Bahrein. 

Quando o longo safety-car pela batida dos carros da Red Bull entrou na pista, assim como ocorreu na China o panorama da corrida mudou e Bottas realmente assumiu a ponta da corrida, mas Vettel, Hamilton e um recuperado Raikkonen estavam com pneus ultramacios para um final de prova eletrizante. E a relargada não deixou devendo essa expectativa. Numa briga de vácuo espetacular, os quatro carros mais rápidos da F1 atual chegaram colados na primeira curva. Talvez empolgado e querendo recuperar logo a liderança da corrida que foi sua a maior parte do tempo, Vettel deixou para frear tarde demais na cuva um e acabou errando a primeira curva, além de detonar seus pneus, o que fez o alemão perder o pódio. Sim, pois na volta seguinte, apesar de toda a limpeza de pista durante o longo período de safety-car, o líder Bottas teve seu pneu traseiro direito furado por causa de um detrito no meio da reta dos boxes e teve que abandonar bem próximo do final. Quem sorriu com seu cabelo ridículo foi Hamilton. Assim como aconteceu na quinzena anterior, Hamilton esteve longe de brilhar e se a Mercedes estava apostando em vitória, ela viria com Bottas. Porém, como todo grande campeão, Lewis aproveitou os erros e os azares alheios para conquistar sua primeira vitória em 2018 e assumir a ponta do campeonato. A cara de Hamilton denunciava um certo incômodo do inglês. Acostumado a vencer sendo o melhor piloto de todo o final de semana, Hamilton sabe que venceu hoje na base da sorte. Bernie falou em falta de motivação por parte do piloto da Mercedes antes da corrida, mas Hamilton pode dar a volta por cima com essa vitória. Por sinal, Kimi deu uma bela volta por cima com uma corrida em que se aproveitou muito bem da pataquada redbulldiana para conseguir um excelente segundo lugar após bater na primeira volta. Vettel tinha a vitória nas mãos, mas acabou se afobando quando se viu na posição de atacar Bottas e por muito pouco o estrago não teria sido pior, pois seu pneu dianteiro esquerdo estava claramente destruído, mas como faltavam apenas três voltas, Seb diminuiu o prejuízo.

Agora, a Red Bull. Para mim, o ciclo de Daniel Ricciardo dentro da Red Bull terminará ao final desta temporada, com o clima ficando insustentável en sua convivência com Max Verstappen. Na minha visão, quem errou foi o próprio australiano, mas a briga com o seu companheiro de equipe havia sido acima do tom a corrida inteira. Foi uma bela briga vista de fora, mas que deve ter deixado os homens da Red Bull de cabelo em pé, culminando com o acidente entre os dois na primeira curva, numa manobra em que Verstappen se defendeu numa manobra dura, mas sem infringir nenhuma lei, mas que Ricciardo, talvez sem paciência com as trocas de posição pela agressividade de Max, não aliviou e encheu a traseira do holandês, numa cena muito parecida com a da Turquia em 2011, com Vettel e Mark Webber. Apesar de todas os incidentes protagonizados por Verstappen, o jovem ainda é o 'darling' da equipe Red Bull, que o vê com bons olhos para o futuro, apesar de que o amadurecimento de Max já esteja demorando demais. Ricciardo sabe disso e mesmo vindo de vitória, ele sabe que a Red Bull enxerga Max, não ele, como o futuro da equipe. E já pensando no seu futuro, Ricciardo já teria um pré-contrato assinado com a Ferrari e depois de tudo o que aconteceu durante a corrida de hoje, ele deverá assinar com a Ferrari ou até mesmo a Mercedes.

A Force India vinha fazendo uma temporada abaixo da crítica para quem vinha de dois quarto lugares no Mundial de Construtores, mas o time róseo aproveitou bem a longa reta de Baku para usar o potencial do motor Mercedes e voltar ao lugar que ocupava até o ano passado. O começo da corrida não foi o melhor para a Force India, com Ocon ultrapassando Raikkonen e quando ia levar o troco, acabou na barreira de pneus e abandonando. Pérez havia levado um toque na primeira curva e o mexicano logo procurou os boxes. Numa corrida bem calculada e se esquivando dos erros alheiros, Pérez foi ganhando posições e se viu em terceiro, subindo ao pódio mais uma vez na carreira e como já havia acontecido em outras oportunidades, quando ninguém esperava. O ritmo inicial da Renault foi surpreendente, com Sainz e Hulkenberg ultrapassando a dupla da Red Bull, mas tudo começou a desandar quando Hulk bateu sozinho e Sainz perdeu muito rendimento, fazendo sua parada logo no começo da corrida. A partir de então, Sainz esteve longe de repetir o ótimo desempenho inicial, mas fazendo uma corrida sobrevivente, chegou ao quinto lugar e vê com bons olhos toda a movimentação que ocorre dentro da Red Bull. Mesmo com Pérez subindo ao pódio e Sainz superando a dupla da Red Bull, o piloto do dia não foram ele e veio do meio do pelotão. Costumo dizer que quando um piloto tem um carro ruim, o pior da categoria, ele não aparecerá levando o carro até o fim. 'As equipes estão vendo o trabalho dele', dizia Galvão sobre os vários pilotos brasileiro que passaram sem deixar saudade na F1. O piloto é notado quando faz o diferente. Sai da caixinha. Faz algo muito superior ao potencial do carro. O inesquecível Jules Bianchi levou seu Manor/Marussia ao nono lugar em Mônaco. Pascal Werhlein pontuou com Manor e Sauber, quando ambas tinham os piores carros do pelotão. Hoje, Charles Leclerc, considerado uma joia ferrarista, conseguiu algo assim. A Sauber melhorou em comparação ao ano passado, mas ainda briga para não ser a última entre as equipes. Leclerc superou com folgas Ericsson, que vinha de boas corridas e pontos no Bahrein, num circuito difícil como Baku. O jovem monegasco fez uma corrida sobrevivente, levando seu carro à posições bem superiores ao potencial da Sauber, chegando a ocupar a quinta posição, mas sendo superado por Sainz nas voltas finais. O sexto lugar de Leclerc foi o melhor resultado da Sauber em três anos e após um início claudicante, Leclerc mostrou o porquê tanto se espera dele.

Alonso se envolveu num incidente na primeira volta onde teve que percorrer o circuito praticamente em duas rodas e sabendo que seu assoalho estava danificado, tudo que o espanhol poderia esperar era uma corrida maluca e cheia de alternativas, algo que o esperto espanhol sempre aproveitou com as duas mãos. O sétimo lugar com um carro danificado e que nunca se encontrou em Baku mostra bem o potencial que Alonso ainda pode mostrar. Vandoorne, numa corrida muito complicada, ainda amealhou mais pontos para a McLaren, a única ao lado da Ferrari a ter dois carros no top-10. Assim como a Force India, a Williams aproveitou a reta e o motor Mercedes para melhorar um pouco sua imagem em 2018, com Lance Stroll mostrando que se dá mesmo muito bem no circuito urbano de Baku, onde conseguiu um inacreditável pódio ano passado e hoje tirou a Williams do zero. Com uma reta tão longa, era claro que motor Honda sofreria bastante, mas com tantos abandonos, a Toro Rosso ainda marcou um ponto com Brendon Hartley, seu primeiro na F1 e apagando a manobra perigosa que ele fez ontem contra seu companheiro de equipe. A Haas sai novamente de um circuito de rua com o gosto amargo na boca. Grosjean chorou de raiva ao ter problemas de câmbio na classificação e por isso largar em último, porém, o francês fazia uma corrida magnífica... até bater quando estava em sexto. Durante o período de safety-car! Uma barbeiragem histórica, que renderá muitos memes e vídeos no Youtube para Grosjean. 

Foi uma corrida marcada por tudo o que os fãs mais querem na F1. Indefinição do vencedor até o final, vários carros na briga pela vitória, muitas ultrapassagens, batidas e uma baita polêmica. Ao invés de ser uma herança maldita, Baku e suas peculiaridades vai se tornando uma herança bendita. Em quatro corridas na temporada 2018, tivemos três pilotos de três equipes diferentes vencendo, com um campeonato bem apertado. Até agora, não se pode reclamar do que estamos vendo em 2018. Da mesma forma que não podemos entrar em depressão como aconteceu em Melbourne, não podemos entrar em euforia com as três últimas corridas. Porém, não se pode negar: que temporada até agora!

sábado, 28 de abril de 2018

Mudanças

Antigamente se falava que a temporada da F1 realmente começava quando o calendário chegava à Europa, o berço da categoria. Voltando um pouco no tempo, haviam uma corrida na Austrália, um ou duas na América do Sul e depois o circo da F1 aportava na Europa, normalmente em Ímola. Se as duas ou três primeiras corridas tinham servido de termômetro, chegava o momento de fazer as correções quando as equipes chegavam de longas viagens e se aproximavam das suas fábricas. Era nesse momento que as mudanças ocorriam nas forças da F1. Com a grande expansão promovida por Bernie Ecclestone, antes de se chegar à Europa há várias provas na Ásia e esse axioma caiu um pouco em desuso. Até mesmo a primeira corrida na Europa mudou um pouco com essa expansão, com a etapa inaugural da Europa sendo no Azerbaijão em 2018. Porém, houveram algumas mudanças depois das três corridas na Oceania e na Ásia.

Quando Hamilton conseguiu uma pole arrebatadora em Melbourne, temia-se que a F1 voltaria aos tempos em que a Mercedes dominaria a F1 com facilidade e com Valtteri Bottas estando longe de fazer ombros ao inglês como fazia Nico Rosberg, temeu-se pela temporada 2018. Três corridas se passaram e a Mercedes não apenas ainda não venceu uma corrida, como a Ferrari passou a ter a primazia na briga pelo primeiro lugar, que hoje não é mais bi, mas tripolar, incluindo aí a Red Bull.

A classificação de hoje em Baku mostrou outras pequenas mudanças ao longo do pelotão. Muito por causa da enorme zona de aceleração de quase dois quilômetros, duas equipes equipadas com motor Mercedes, que estavam decepcionando até agora, voltaram à baila: Force India e Williams. O time cor de rosa não apenas colocou seus dois carros no Q3 com alguma facilidade, como Ocon chegou a andar no mesmo ritmo da Red Bull, demonstrando que o motor Renault está isolada como a terceira força no ranking de motores. A claudicante Williams esteve perto de um feito ainda maior, quando quase colocou um dos seus carros no Q3, com Stroll e Sirotkin sendo os primeiros fora do Q2, ficando um décimo de segundo atrás do décimo colocado Ricciardo, na melhor apresentação da equipe em 2018 até agora. Chama a atenção a forma como Sirotkin supera Stroll, mesmo sendo um novato. Alonso continuou seu sofrimento com a McLaren ainda não se encontrando na classificação, inclusive com Vandoorne ficando no Q1. A Toro Rosso novamente teve um incidente com seus dois pilotos, sendo que desta vez poderia ter ocasionado um acidente grave, quando Hartley furou o pneu e quase foi atingido por Gasly, num incidente em que o francês passou muito perto do companheiro de equipe em alta velocidade no que poderia ser um acidente gravíssimo!

O Q3 foi dominado pelas três equipes top da F1, com leve soberania ferrarista, que só não completou a primeira fila do grid por causa dos erros de Raikkonen, principalmente na curva 16. Vettel ficou com a pole com alguma folga sobre Hamilton e Bottas, com a dupla da Red Bull logo atrás. Apesar da desvantagem com relação ao motor, a Red Bull sempre apresenta um ritmo de corrida melhor, no que pode atrapalhar a Mercedes na sua nova posição de caçadora. A Ferrari hoje é a caça. Voltando dois meses no tempo, as coisas mudaram bastante na F1.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Voltando à normalidade

Assim como ocorreu cinco anos antes, Ímola viu uma temporada de F1 voltar ao normal, o que significava em 1998 uma vitória da McLaren. Porém, não foi com o piloto querido por Ron Dennis. A dupla prateada conseguiu toda a primeira fila, com Hakkinen na frente de Coulthard. Mostrando como seria o ano, Schumacher conseguia a terceira posição no grid meio segundo atrás de Hakkinen e meio segundo na frente de Irvine. Era Schumacher contra a McLaren na casa da Ferrari.

O Grande Prêmio de San Marino de 1998 foi definido na largada, quando Coulthard saiu melhor do que Hakkinen e assumiu a ponta da corrida para não mais perdê-la. Hakkinen acompanhou inicialmente o seu companheiro de equipe, mas acabaria abandonando na volta 17, porém, Coulthard já estava 14s na frente de Schumacher à essa altura. Não foi uma corrida emocionante. Longe disso. Villeneuve ultrapassou Irvine na largada, mas seria superado pelo desafeto na primeira rodada de paradas e ambos terminariam quase um minuto atrás de Coulthard.

Nas voltas finais, Schumacher tirou toda a diferença que tinha para Coulthard dando uma animada no final da prova, mas quando o alemão já pensava em algum ataque, o escocês aumentou seu ritmo e partiu para a sua primeira vitória no ano, dando um claro recado à Ferrari: vocês podem trabalhar, colocar 'candelabros' em seus carros, mas a McLaren ainda era o melhor carro com vantagem.


História: 25 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1993

Após duas corridas fenomenais de Ayrton Senna, a temporada de 1993 da F1 tinha um certo ar de surpresa, pois o esperado era que Alain Prost estivesse dominando o campeonato nesse momento, pois se com Mansell a Williams dominou como poucas vezes vistas em 1992, com um piloto superior, no caso Prost, era esperado que o 'Professor' fizesse ainda melhor. Porém, Prost não contava com a genialidade do seu arqui-rival Senna, que ainda negociava rispidamente com Ron Dennis sua renovação de contrato com a McLaren. As duas vitórias seguidas de Senna mostravam quem era o grande piloto daquela época, mas a pedida do brasileiro (16 milhões de dólares) era demais até mesmo para uma equipe como a McLaren. O trunfo de Senna era que a pressão sobre Prost era muito grande, ainda mais com a medíocre corrida do francês em Donington Park.

Como esperado, Prost consegue sua quarta pole consecutiva, mantendo a invencibilidade em 1993, enquanto Damon Hill completava uma primeira fila inteiramente da Williams. Senna chegou em cima da hora para os treinos livres, rodou durante a classificação e ainda ficou em quarto no grid, quase 2s atrás de Prost e ainda tendo que aturar ser superado por Schumacher, que tinha por contrato um motor Ford mais evoluído do que o seu. Michael Andretti faz uma classificação decente e fica em sexto, mesmo que tomando quase 1s de Senna. Correndo em casa, a Ferrari decepcionou ao ficar no meio de um pelotão intermediário onde vários carros estavam separados por centésimos de segundo, mas muito longe das dominantes Williams.

Grid:
1) Prost (Williams) - 1:22.070
2) Hill (Williams) - 1:22.168
3) Schumacher (Benetton) - 1:23.919
4) Senna (McLaren) - 1:24.007
5) Wendlinger (Sauber) - 1:24.720
6) Andretti (McLaren) - 1:24.793
7) Blundell (Ligier) - 1:24.804
8) Berger (Ferrari) - 1:24.822
9) Alesi (Ferrari) - 1:24.829
10) Brundle (Ligier) - 1:24.893

O dia 25 de abril de 1993 amanheceu chuvoso em Ímola, trazendo boas memórias para Senna e nem tantas para Prost. Dois anos antes, num dos seus momentos mais vexatórios na F1, Prost rodou na volta de apresentação do encharcado Grande Prêmio de San Marino, para enorme tristeza da torcida da Ferrari que estava ali presente para torcer para Alain. Vindo de duas vitórias onde a chuva tinha sido uma peça fundamental na corrida, Senna estava confiante, mesmo com a chuva tendo indo embora e a pista estava claramente secando, mas todos os pilotos partiram para a largada com pneus de chuva. Na saída para a volta de apresentação, Prost tem problemas de embreagem, mas sem tempo a perder, o francês teria que largar daquele jeito. A embreagem da Williams seria o calcanhar-de-Aquiles de Prost em toda a temporada. Como era esperado pelo o seu problema, Prost larga muito mal e é imediatamente ultrapassado por Hill e Senna.

Com a pista úmida, houveram alguns incidentes na primeira volta, com Blundell batendo forte na Tamburello e Hill chegando a sair da pista na chicane da Acqua Minerale, mas permanecendo na ponta da corrida. Pressionado pelos resultados recentes e não estando em sua zona de conforto, Prost sai de suas características cautelosas na pista molhada e parte para cima de Senna, enquanto Hill abria uma ótima vantagem sobre os dois. Prost tentava de todos os modos efetuar a ultrapassagem, mas Senna usava seus truques para se manter na frente, mesmo com um carro nitidamente inferior. Na volta 7, após várias tentativas, Prost se aproveitou de um pequeno erro de Senna e ultrapassou o rival na saída da Tosa. Nesse momento, Hill estava 8s na frente e Senna nem tinha com o que se preocupar, pois Schumacher já vinha 12s atrasado. Mais importante para a corrida foi que naquela volta Wendlinger arriscou ao ir para os boxes e colocar pneus slicks, mesmo a pista não estando completamente seca e garoando de leve. Sem mais nada a perder, Senna tenta o diferente e na volta seguinte coloca pneus slicks, retornando à pista ainda na frente de Schumacher. Imediatamente todos os pilotos foram aos boxes atrás dos pneus slicks e no fim Hill ainda liderava, mas por ter passado tempo demais na pista com os pneus inapropriados no momento, ele tinha Senna e Prost em seus retrovisores. Foi então que Prost mostrou ao mundo que também é gênio. Em praticamente duas curvas, o francês da Williams assumiu a ponta da corrida com ultrapassagens seguras, enquanto Hill, assustado com a manobra do companheiro de equipe, também fora ultrapassado por Senna.

Com um trilho seco definido, Prost mostrou toda a superioridade da Williams e com voltas mais rápidas sucessivas, disparou na ponta. Hill perseguia Senna e os dois quase bateram nos retardatários Barrichello e Zanardi, que se tocaram bem na frente dos líderes, provocando o abandono do brasileiro. Na volta 21, Hill errou na entrada da Tosa e ao ficar preso na caixa de brita, deixava Senna sozinho em segundo e mostrando que o filho de Graham não estava no alto nível das estrelas da época. Na volta 33 Michael Andretti brigava pelo quarto lugar com Karl Wendlinger quando os dois se tocaram (pela terceira vez em quatro corridas...) e o americano abandonou no local, além de deixar Wendlinger uma arara! Na volta 40 Alesi estaciona a sua Ferrari quando vinha em quinto lugar e enquanto cumprimentava os tifosi, Senna abandonava a corrida com problemas hidráulicos. Nos boxes, a McLaren já arrumava suas malas...

Prost tinha uma vantagem absurda sobre os demais e faltando quinze voltas para o fim somente ele e Schumacher, segundo colocado, estavam na mesma volta. Wendlinger estava com problemas em seu motor e perdia rendimento até seu motor quebrar na volta 48, fazendo com que Brundle assumisse o terceiro lugar, com seu confiável Ligier-Renault. Zanardi fazia uma boa corrida de recuperação e após ultrapassar seu companheiro de equipe Herbert, ele começou os ataques em cima de Lehto pela quarta posição, mas após bater forte numa zebra, Zanardi tem a suspensão traseira quebrada na Tamburello e por muita sorte o italiano não teve um grande acidente. No fim, a única briga era entre Lehto e Herbert pela quarta posição, mas que terminou faltando duas voltas quando o motor de Herbert quebrou. Com tantos abandonos, quando o motor de Lehto quebrou na última volta, ele ainda se manteve em quarto, pois Alliot e Barbazza já estavam duas voltas atrasado. Prost vencia pela segunda vez na temporada, enquanto Schumacher aparecia num solitário segundo lugar, 32s atrás do piloto da Williams e Brundle completava o pódio, o segundo da Ligier na temporada. Mesmo com toda a genialidade de Senna, as duas derrotas em Interlagos e Donington Park tinham sido mais acasos do que uma linha a ser seguida em 1993 e Prost voltava ao rumo das vitórias e da normalidade.

Chegada:
1) Prost
2) Schumacher
3) Brundle
4) Lehto
5) Alliot
6) Barbazza

domingo, 22 de abril de 2018

Falso equilíbrio

Para quem olha para a tabela de classificação do Mundial de MotoGP, deve imaginar que a categoria deve estar passando por um incrível momento de equilíbrio e que o empolgante campeonato de 2016 poderá se repetir. Na prática, a história é bem diferente. Desde a pré-temporada era bem claro que o conjunto Márquez/Honda é o melhor da MotoGP atual com alguma folga. No Catar, numa pista pró-Ducati, Márquez quase venceu, ficando logo atrás de Doviziozo. Na Argentina, uma sucessão de problemas fizeram com que Márquez saísse da bacia do Prata zerado. Em Austin, pista favorita de Márquez e num final de semana absolutamente normal, Márquez mostrou quem manda na MotoGP.

A corrida em Austin foi tão óbvia, que a corrida saiu das características da MotoGP e foi bem chatinha. Novamente punido por atrapalhar a volta rápida de Maverick Viñales na classificação, Márquez saiu da quarta para a segunda posição na largada e simplesmente não deu chance para Andrea Iannone, assumindo a ponta rapidamente para não mais perdê-la. Com seu estilo maníaco, Iannone ainda tentou uma investida em cima do espanhol da Honda, mas logo foi respondido à altura. Márquez não viu mais ninguém à sua frente, vencendo a prova com sobras, conquistando sua décima vitória na MotoGP nos Estados Unidos, contando Austin, Indianápolis e Laguna Seca, sendo que na pista texana Márquez venceu pela sexta vez consecutiva. Um retrospecto impressionante na bela, mas empoeirada e ondulada pista de Austin.

A briga pela segunda posição também foi bem breve, com Iannone sendo ultrapassado por Viñales e quando parecia que Rossi poderia fazer o mesmo, o italiano da Yamaha perdeu força. Rossi, que passou os últimos dias trocando farpas com Márquez, ficou fora do pódio, enquanto Iannone comemorava bastante seu pódio em terceiro lugar, o primeiro do italiano em muito tempo, bem no final de semana em que Iannone foi duramente criticado por Kevin Schwantz, lenda da Suzuki. Depois da vitória no Catar a Ducati não teve mais ritmo para brigar pela vitória e somente a gana de Doviziozo para o italiano tirar o quinto lugar de Zarco e garantir a liderança do campeonato por um ponto em cima de Márquez, mas todos dentro da Ducati sabem que essa liderança é puramente ilusória e que Márquez não demorará a tomar a ponta do campeonato. A Ducati terá que melhorar bastante se quiser estar na briga pelo título, enquanto Lorenzo continua decepcionando em outra corrida esquecível do espanhol, ficando fora do top-10 e atrás de outras motos da Ducati satélite. Com a mão avariada pelo com Zarco na Argentina, Pedrosa foi o herói do dia ao terminar em sétimo.

Após todo o caos na Argentina, a etapa em Austin foi tão calma que foi chata. Márquez poderá tomar a ponta do campeonato a qualquer momento e ninguém, no momento, parece ter muito o que fazer para impedir outro título do espanhol da Honda.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

A F1 sempre foi boa?

O texto abaixo foi escrito de forma brilhante por Elizabeth Werh e foi traduzido de forma livre por mim.

Eis o link: https://jalopnik.com/has-formula-one-ever-actually-been-good-1825176302?utm_campaign=socialflow_jalopnik_facebook&utm_source=jalopnik_facebook&utm_medium=socialflow

Há boas chances de você, ao sintonizar uma corrida de F1 ou ler um artigo, se ouvirá alguém lamentando que a F1 não é tão boa como antes. Os bons tempos eram outros. As décadas de 1980 e 1990 foram o ápice da F1 e desde então a categoria entrou em uma espiral descendente. Quaisquer sugestões sobre como melhorar o esporte está em voltar ao passado. 

Mas alguém pode realmente dizer com autoridade que a Fórmula 1 já foi realmente boa?

Eu perguntei isso no Twitter no domingo passado, em parte apenas para provocar, mas as respostas que eu recebi me fizeram pensar. O que realmente torna uma categoria boa, e a F1 já conheceu esse patamar?

Todos tinham respostas diferentes, algo que eu esperava. Mas isso me fez querer mergulhar no controle de qualidade, para ver se eu poderia analisar por que a F1 está sujeita a tantas críticas e se há alguma maneira de torná-la “boa”.

Bom é um termo incrivelmente relativo. Eu acho que Black metal uma boa música, mas eu imagino que a maioria das pessoas não consideram isso boa música. Seu "bom" e meu "bom" provavelmente são incrivelmente diferentes quando se trata de Fórmula 1 - e isso é legal. Há algo realmente interessante sobre como as pessoas se relacionam com esse esporte de maneiras diferentes. Mas isso torna o “bom” mais difícil de definir.

Eu acho que isso se resume a nostalgia. Há toneladas de pesquisas sobre a psicologia da nostalgia. Nostalgia: Neuropsychiatric Understanding é um estudo de Alan R. Hirsch que a nostalgia é “um anseio por uma impressão desinfetada do passado”, onde você tem um monte de impressões sensoriais e filtra todas as coisas negativas. Isso cria a ideia de que o passado era o ideal ao qual você nunca poderá voltar, o que o faz desejar ainda mais ter essa sensação. 

Isso ajuda a entender porque a F1 não é tão boa quanto costumava ser. Não, a F1 não vai ser tão empolgante quanto era quando você era criança, porque seu cérebro se lembra daquele tempo antes de você ter responsabilidades, uma família e um emprego e diz: “foi a melhor época da minha vida e tudo foi bom, incluindo as corridas que eu assistia nas manhãs de domingo.”

É por isso que muitos dos antigos comentaristas F1 continuam pressionando por motores barulhentos, sem halos e menos regulamentações. Não foi "assim" quando eles viram a F1 pela primeira vez, mas eles estavam felizes quando estavam na F1 daquela vez. Claro que sim, eu gostaria de voltar a 1984 se essa fosse a minha primeira temporada dirigindo um carro de F1; meu cérebro iria construí-lo para lembrar que tudo foi incrível.

Há definitivamente algo a dizer sobre a qualidade da corrida nos últimos anos. Muitas pessoas marcam 2012 como a última vez que ficaram realmente felizes com a F1. Mas também acho falso dizer que o caminho a seguir é começar a voltar.

Estamos neste momento por um motivo. A F1 pode não ser o sonho de qualquer fã de corrida ultimamente, mas a F1 é um esporte projetado para impulsionar a evolução técnica. Eu cresci fascinada pela F1 de 1970, mas tenho certeza de muitos pilotos morreram em sua busca pela glória. Os anos 80 foram empolgantes, mas muitas corridas foram determinadas por abandonon por quebra mecânica que nos leva a especular sobre o que teria acontecido se um piloto não tivesse feito o DNF naquela corrida e depois ganhasse um campeonato.

Segurança e confiabilidade são progressos. Carros avançados e o ar de glamour e prestígio sempre acompanharam a F1. Por mais que continuemos ansiando pelos 'bons tempos', é quase impossível voltar para lá. Lamento dizer, mas a F1 não pode ser o que era quando James Hunt era um superstar. Devemos estar evoluindo, não involuindo.

Parte do motivo de nossas memórias são tão boas é porque ninguém estava nos dizendo ativamente o quão ruim era cada corrida. O século 21 é de niilismo pessimista, graças à prevalência de idéias a que somos expostos. Todas as decisões tomadas pelos dirigentes da F1 atingem as mídias sociais em segundos - e alguns segundos depois vem a reação negativa. Nós não esperamos ver como uma mudança acontecerá porque é uma mudança e por isso já é ruim. É legal que possamos ter uma opinião, mas em que ponto isso se torna prejudicial?

A F1 não vai progredir se qualquer tentativa de progresso for deixada de lado porque "assimcostumava ser melhor". Tem sido interessante observar as diferentes abordagens da F1 quando comparadas a categorias como, digamos, a Fórmula E. A F-E adota um tom esperançoso: pilotos, equipes, jornalistas e especialistas explicam o progresso e as melhorias. Não há precedentes, então somos capazes de criar narrativas de esperança, de ver o que acontece, de como isso vai ser...bom!

Na F1 é o oposto. Nada na categoria é bom. As corridas são ruins, os pilotos são chatos, as equipes reclamam e os jornalistas não têm nada de bom para dizer. É difícil manter a positividade ou ter esperanças para o futuro, quando todos dizem que é uma droga. Eu assisto uma corrida da IndyCar esperando estar satisfeita, mesmo que seja uma corrida ruim ou que meu piloto favorito perca miseravelmente, porque eu sei que vai ser um bom momento no geral. Entro numa corrida de Fórmula 1 pronta para ficar entediada, desapontada e irritada.

E se olharmos para o último fim de semana, as corridas nem sempre atendem a essas expectativas. A corrida em Phoenix foi terrivelmente chata. Era tarde, nada estava acontecendo e eu estava rezando para que eu acabasse e ir para a cama. O Grande Prêmio do Bahrain 2018 foi... emocionante! Foi divertido! Eu fiquei vidrada até o final esperando para ver se os pneus de Sebastian Vettel resistiriam, se nós veríamos uma Toro Rosso no pódio. Eu tinha planejado sair no meio da corrida e acabei ficando para assistir ao pódio.

A cobertura pós-corrida, no entanto, foi bem diferente. A F1 concentrou-se em várias histórias negativas, ou seja, Hamilton xingando Verstappen ou a atitude insolente de Kimi Raikkonen. A IndyCar falou como foi a corrida e começou a deixar todo mundo feliz porque, sim, não foi uma grande corrida, mas Long Beach é a próxima!

Eu estava animada para acordar para ver o Grande Prêmio da China assim que o Bahrein terminasse. Agora, eu estou esperando assistir a corrida como um trabalho, porque meu prazer pós-corrida foi anulado por várias pessoas que não estavam felizes com o que recebemos.

Então a F1 já foi boa? Talvez sim, talvez não. Nossas memórias do que a F1 costumava ser são tingidas com uma nostalgia que faz com que ela pareça intocável, mas eu não quero tirar de suas memórias de infância dizendo que você tem que ser completamente pessimista. Na verdade, acho que esse é o problema.

Nós não temos que dar crédito à F1 onde não é devido. Existem algumas corridas ruins e algumas decisões estúpidas e não há nada errado em apontar isso. Às vezes, as corridas antigas são melhores. Mas, em vez de decidir que não vamos gostar literalmente de nada da Fórmula 1, talvez seja hora de começarmos a nos divertir assistindo. Nem sempre temos que ser críticos; às vezes podemos ser apenas torcedores também.

O texto foi escrito antes do belíssimo Grande Prêmio da China e não sei se Elizabeth assistiu a corrida com prazer, mas deve ter gostado do que viu.

Um dos meus hobbies favoritos é ler revistas antigas e assistir corridas dos anos 1980 e 1990, tanto da F1 como da Indy. Devemos muito respeitar as corridas antigas, mas também ter a cabeça aberta que haviam também naquela época corridas chatas, ganhas mais pela eficiência do carro do que pelo talento do piloto e havia muita reclamação daqueles decantados 'bons tempos' também.

Um ano que sempre uso como referência é 1993. Me recordo muito bem que vinte e cinco anos atrás se reclamava que a F1 tinha corridas ruins, que o carro (Williams) estava superando o piloto (Senna) e a que a F1 estava... chata! Hoje, quando lembramos de 1993 as primeiras imagens que vem à mente é que foi uma temporada grandiosa, com belas disputas, corridas emocionantes e com shows de pilotagem em todas corridas do ano. Mas para quem acompanhou a F1 naquele ano, sabe que não é verdade.

Não era raro corridas sendo ganhas com apenas dois ou três pilotos na mesma volta, com apenas oito carros cruzando a linha de chegada ou com poucas disputas na liderança. Como o texto falou, não se pode involuir. Até porque nos anos 1980 e 1990, usava-se de mais avançado na indústria automobilística que havia a disposição na época, do mesmo modo de agora. E haviam reclamações também!

Começo a perceber que o torcedor de F1 é pior que o de futebol. Quando o Ceará venceu o Campeonato Cearense de forma épica, todos se emocionaram e criaram-se heróis. Uma semana depois, após perder um jogo de série A fora de casa contra um time grande (Santos), esses mesmos heróis eram execrados e contratações são exigidas. Se ganharmos domingo do São Paulo, tudo volta às boas para todo mundo no Ceará. Na F1 não. Se a corrida for ruim, a F1 está chata. Se a corrida for boa, a F1 não é como antigamente. Como se antigamente não houvessem corridas ruins...

A expressão 'bons tempos' na F1 está destruindo a categoria pelos próprios fãs. Bons tempos tem que ser os atuais, não os que não voltam mais. Devemos admirar e cultuar o passado, mas sem deixar de curtir o presente! A F1 está espetacular como sempre foi.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Figura(CHN): Daniel Ricciardo

Não podia ser outro! Daniel Ricciardo viveu os extremos, para o bem e para o mau, que um piloto pode sofrer num final de semana. Ao final do terceiro treino livre o motor Renault explodiu no carro de Daniel e a Red Bull teria pouco mais do que duas horas para trocar o motor e evitar que o australiano largasse na última fila no domingo. Num esforço hercúleo, Ricciardo entrou na pista no finalzinho do Q1 e conseguiu se classificar na posição correspondente ao seu carro no final das contas. As expectativas para a corrida, porém, não era muito animadoras, pois Ferrari e Mercedes estavam bem na frente em ritmo de classificação e apesar de estar mais próxima em ritmo de corrida, a Red Bull estava longe de ser favorita na corrida. Porém, o imponderável as vezes aparece nas corridas e um safety-car mudou toda a corrida e a Red Bull mudou sua estratégia de forma formidável, dando aos seus dois pilotos uma chance de vencer a corrida até mesmo com sobras. Com pneus mais macios e novos do que as duplas de Ferrari e Mercedes, bastava aos pilotos da Red Bull paciência até assumir a ponta da corrida. Algo que sobrou em Ricciardo e faltou em Verstappen. A primeira vítima de Ricciardo foi o próprio companheiro de equipe por falta de estratégia de corrida de Max. Daniel Ricciardo provou que além de rápido, sabe uma efetuar uma bela estratégia de corrida e ultrapassar com decisão, não esperando as facilidades do DRS. As ultrapassagens de Ricciardo em cima das Mercedes, em especial que lhe valeu a liderança em cima de Bottas mostram um piloto maduro e pronto para voos ainda maiores, onde soube sair de situações ruins para aproveitar muito bem a chance que teve.

Figurão(CHN): Max Verstappen

É impressionante a forma como Max Verstappen flutua entre a parte de cima e de baixo dessa coluna pós-corridas de F1 ao longo dos últimos três anos. O enorme talento do holandês é bastante proporcional à sua imaturidade, da mesma forma que sua velocidade está no mesmo nível de sua arrogância. Verstappen é capaz de corridas magistrais como a de Interlagos ano passado e a atabalhoada prova de ontem, em Xangai, quando o holandês jogou fora uma vitória que estava em suas mãos por culpa unicamente dele. Quando o safety-car apareceu e a Red Bull foi rápida no gatilho em trazer seus dois pilotos e colocar pneus macios novos, Verstappen estava na frente de Ricciardo, que mais tarde faria uma corrida belíssima rumo à vitória. Com os pneus apropriados, os pilotos da Red Bull tinham tudo para atropelar a concorrência. Bastava ter paciência. Algo que sobrou à Ricciardo. E faltou à Verstappen. O primeiro dos pilotos que Daniel ultrapassou foi justamente seu companheiro de equipe, quando Verstappen tentou uma ultrapassagem arriscada sobre Hamilton, numa curva rápida e por fora. Max acabou fora da pista. Enquanto Ricciardo encantava com suas ultrapassagens ao mesmo tempo agressivas e certeiras, Max ainda teve tempo para aprontar mais uma, quando acertou a lateral de Vettel em outra tentativa de ultrapassagem frustrada, fazendo-o rodar, além de provocar uma merecida punição ao piloto holandês. Foi uma sucessão de erros que já começam a obscurecer o talento de Max. Até mesmo a Red Bull, rápida em proteger Max das críticas pela sua impetuosidade, ficou irritada com os preciosos pontos desperdiçados pelo holandês. Apesar de ter apenas 20 anos, já não se pode chamar Verstappen de um piloto inexperiente e a impressão que fica é que o holandês não aceita seus erros, talvez encorajado pelo seu atrapalhado e super-protetor pai, Jos. Mesmo com todo o seu potencial e talento, Max Verstappen precisa se controlar, como falou muito bem a Red Bull na avaliação do seu piloto pós-corrida. Porém, não duvido nada que o jovem neerlandês apareça na parte de cima dessa coluna na próxima corrida em Baku...

domingo, 15 de abril de 2018

Pintando o favorito

Foram dois terceiros lugares nas duas primeiras corridas da temporada, seguido por um final de semana próximo do perfeito, culminando com a vitória na tradicional corrida em Long Beach. Até o momento, Alexander Rossi não tem do que reclamar de 2018. O piloto da Andretti esteve sempre entre os mais rápidos desde os treinos livres, fez a pole com requintes de crueldade (fez apenas uma volta nos últimos segundos no Fast Six) e na corrida dominou como bem quis, já se apresentando como um dos favoritos para essa temporada.

Long Beach é umas das corridas mais tradicionais no mundo e por isso é uma das mais esperadas do calendário da Indy. As ruas apertadas, o hairpin e a longa reta pela Shoreline Drive transpira tradição numa corrida que já tem mais de quarenta anos, se contar os tempos de F1. E foi vindo da F1 que Rossi começa a mostrar suas garras na Indy. Após vencer de forma circunstancial as 500 Milhas de Indianápolis de 2016, Rossi fechou por mais uma temporada na Andretti e aos poucos vai mostrando todo o seu talento, que foi ignorado pela F1. O jovem americano da Andretti já vinha fazendo por merecer uma vitória esse ano, mas Rossi pareceu esperar para fazer mais do que vencer. Ele dominou todo o final de semana em Long Beach.

Como não poderia deixar de ser na pista de rua californiana, ocorreram alguns acidentes e confusões, começando logo na largada, quando Simon Pagenaud foi atingido por trás de forma estabanada por Graham Rahal, que foi punido, mas ainda se recuperou para terminar em quinto. Rossi tinha uma companhia pesada durante toda a corrida. Atrás dele vinha o sempre perigoso Scott Dixon, o experiente Sebastien Bourdais e Will Power. Após anos dominando a Indy, a Penske sentiu os efeitos com o novo carro e nem longe faz trios ou quadras na ponta dos grids desse ano. Com Pagenaud fora logo no início, coube à Power ser o representante único da Penske na briga pela vitória, já que Pagenaud fazia uma corrida irreconhecível. Mesmo com toda essa companhia, Rossi dominou a primeira metade da prova, chegando a abrir 9s para os rivais.

Por sinal, a Bandsports fez o favor de transmitir uma final de tênis de um torneio de quarta linha com dois tenistas de qualidade para lá de duvidosa durante a primeira metade da prova e para quem quisesse assistir a corrida, teve que apelar para o Youtube. Vai bem a cobertura da Indy pela Band...

Uma bandeira amarela como sempre tumultuou as coisas e nos trouxe a manobra do final de semana, com Bourdais fazendo uma ultrapassagem tripla, em cima de Dixon e do retardatário Matheus Leist. Pena que o francês cruzou uma linha azul, teve que devolver a posição para ultrapassar novamente Dixon na mesma curva. Porém, eles não seriam os principais rivais de Rossi pela vitória. Em outra bandeira amarela, Bourdais e Dixon entraram nos pits na hora errada e ambos perderam muito tempo nesse processo. Tendo feito sua última parada um pouco antes da amarela, Power assumiu a segunda posição e perseguiu de perto Rossi, mas o americano da Andretti não sentiu a pressão e venceu pela terceira vez na Indy.

Ao sair do carro, percebeu-se logo que Alexander Rossi é totalmente diferente de Josef Newgarden. Tímido e sem muitos sorrisos, Rossi comemorou com Michael Andretti discretamente, mas os dois americanos tendem a ser o futuro da Indy, cada um ao seu estilo, mas ambos mostrando muito talento. E quem ganha com isso é a Indy e para quem acompanha a categoria. Isso se a Band deixar...

Aos imediatistas

Após a primeira corrida desta temporada, não faltou quem achasse que a F1 tinha acabado e que 2018 seria uma chatice do começo ao fim. Nessa era atual onde tudo é imediato, houve até reunião da FIA com as equipes para que as corridas melhorassem. Passou quinze dias e vieram as provas no Bahrein e na China. A pergunta agora é: a F1 está chata? Com uma corrida como a dessa madrugada é até difícil não se empolgar, mas muita gente terá que engolir as críticas e quem deixou de ver as duas últimas provas por causa de Melboune perdeu duas grandes provas, com destaque para a metade final da corrida em Xangai, onde três equipes estiveram envolvidas em disputas de tirar o fôlego até a bandeirada. Claro que daqui a quinze dias Baku pode nos trazer uma corrida ruim, como normalmente acontece, mas corridas boas e ruins acontecessem desde que a F1 é F1 e Daniel Ricciardo sorrindo e se emocionando no alto do pódio nos mostra que grande esporte é esse.

A corrida pode ser muito bem dividida em duas. Antes e depois do safety-car forçado pelo toque entre os dois carros da Toro Rosso. Até então, a corrida era tática como havia acontecido semana passada no Bahrein. Após uma largada com mudanças importantes entre os seis primeiros, a corrida estava estática com Vettel na ponta e abrindo vantagem sobre Bottas, que tinha Verstappen numa boa distância. Após o holandês, vinham Hamilton e Ricciardo. A primeira rodada de paradas viu a Ferrari demorar demais para chamar Vettel e o alemão acabou atrás de Bottas, mas bem próximo do carro da Mercedes. As perguntas começaram a pipocar enquanto Vettel atacava Bottas. Assim como em Sakhir, que tem um asfalto bem abrasivo, só haveria uma única parada para os líderes em Xangai? Ao retardar a sua parada, que seria única, Raikkonen teria a vantagem no final? Tudo isso foi pro vinagre quando Pierre Gasly, com pneus macios, tentou uma ultrapassagem para lá de otimista e posteriormente punida de forma correta em cima do seu companheiro de equipe Brendon Hartley, com pneus médios. A sujeira no local, na minha opinião passível apenas para um safety-car virtual, trouxe o safety-car real e a corrida virou pelo avesso pela estratégia da Red Bull.

Quando Bottas e Vettel entraram na reta dos boxes, deram de cara com o safety-car e, portanto, sem tempo de reação. A Red Bull foi mais rápida no gatilho e trouxe seus dois pilotos para colocarem pneus macios novos para o último terço da prova, algo que a Mercedes vacilou feio com Hamilton, que vinha logo atrás de Verstappen e permaneceu na pista com os mesmos pneus. O inglês reclamou com razão. A relargada deu início a uma corrida de tirar o fôlego, com os dois carros da Red Bull partindo para cima de Ferrari e Mercedes com a ferocidade juvenil dos seus pilotos, com a diferença de que Ricciardo tem mais senso estratégico do que seu companheiro de equipe. Somente os hormônios em ebulição podem explicar as tentativas de ultrapassagem que Verstappen tentou em cima de Hamilton e Vettel quando tinha o carro mais rápido do pelotão e praticamente entregou a vitória de bandeja para Ricciardo. Vindo na frente do australiano, Max tentou uma ultrapassagem por fora em cima de Hamilton numa curva rápida e acabou fora da pista, sendo ultrapassado por Ricciardo no processo. Depois tocou em Vettel numa tentativa bem parecida com a de Gasly que acabou rendendo uma punição para o holandês, mas que acabou sendo branda pelo conjunto da obra de Verstappen. O filho de Jos viveu um dia como o do seu pai. Já Ricciardo teve uma corrida inesquecível, onde conseguiu ultrapassagens bem calculadas em cima de Hamilton, Vettel e Bottas rumo a uma vitória que parecia impossível no final do terceiro treino livre, quando o motor Renault explodiu e a Red Bull efetuou a troca no limite do tempo para Daniel participar da classificação. Com a melhor volta no final, Ricciardo mostrou a todos que a Red Bull acertou em cheio ao trocar seus pneus durante o safety-car, em outra grande sacada estratégica que acabou rendendo a vitória, de forma enfática, para os austríacos.

Bottas era o favorito a vitória antes do safety-car, mas acabou em segundo e tendo que segurar Raikkonen com o pneu traseiro direito com uma bolha desde a metade da prova. O finlandês dificultou o que pôde para Ricciardo, mas a manobra do australiano foi boa demais para que Valtteri pudesse fazer algo. Méritos para o finlandês segurar o seu compatriota melhor calçado no final, além de estar encostado em Hamilton no Mundial de Pilotos. Hamilton teve a sua corrida mais apagada em anos, onde não brigou pela vitória em nenhum momento, mas sua reclamação sobre a estratégia da Mercedes era totalmente procedente, pois se estivesse com os mesmos pneus da Red Bull, provavelmente estaria na briga pela vitória. Raikkonen retardou sua parada ao máximo, participou da briga entre Bottas e Vettel, mas o veterano finlandês novamente mostrou passividade quando precisou atacar Bottas no final, quando era nítido que tinha mais carro que o compatriota. Por essas e outras que muito se fala que Kimi será dispensado no final desse ano e seu substituto seria justamente Ricciardo, cujo sobrenome italiano e seu jeito latino de ser ajuda bastante. Vettel fazia uma corrida controlada, onde marcaria mais pontos do que Hamilton até ser acertado por Verstappen e ter sua corrida totalmente estragada, ainda tendo tempo de levar uma ultrapassagem daquelas de Alonso na antepenúltima volta. Depois da corrida Sebastian foi procurado por Verstappen e as desculpas foram aceitas de boa, mas o prejuízo foi grande no campeonato, apesar de Vettel permanecer na liderança.

Nico Hulkenberg foi o melhor do resto e demonstrando a evolução da Renault o alemão acabou superando Vettel quando este foi tocado por Verstappen e segurou muito bem as investidas do piloto da Ferrari e amigo. Quando Carlos Sainz foi contratado, era esperado que Hulkenberg pudesse ser superado pelo jovem espanhol, mas Hulk saiu da zona de conforto onde estava quando corria ao lado de Jolyon Palmer e melhorou bastante, sendo um dos destaques do pelotão intermediário, que ainda vê Alonso muito bem em ritmo de corrida. Após uma classificação decepcionante, o espanhol se esmerou na corrida e ainda efetuou uma bela ultrapassagem sobre Vettel no finalzinho da prova. Detalhe: com o mesmo tipo de pneu. Magnussen perdeu tempo após a relargada e fechou a zona de pontos, enquanto Grosjean caiu para as últimas posições em outra corrida muito ruim do francês, principalmente em comparação ao companheiro de equipe. A Force India ficou de fora da zona de pontos, mesmo com Pérez tendo largado em sétimo, mas o mexicano largou muito mal e ficou brigando o tempo inteiro com o seu companheiro de equipe (sempre um perigo) e com os demais representantes do pelotão intermediário. A ruindade do carro da Williams se reflete na boa largada de Stroll e o canadense sendo ultrapassado seguidamente logo depois, demonstrando a falta de ritmo da Williams em ficar perto até mesmo de pontuar. O conto de fadas da Toro Rosso chegou ao fim numa corrida muito ruim e o toque entre seus dois pilotos ocorreu no momento em que Hartley (único abandono do dia) e Gasly brigavam pelas últimas posições, ocupadas pela Sauber, como no ano passado.

A corrida desta madrugada mostrou que o ritmo entre as três equipes top, principalmente na corrida, está muito parecido. Muito provavelmente a Red Bull não ganharia se não tivesse tirado o coelho da cartola na estratégia, mas os carros azuis estavam misturados com Mercedes e Ferrari antes da entrada do safety-car. Ricciardo mostrou também que ele é muito mais do que um rosto sorridente no paddock. O australiano não poder ter o mesmo talento de Verstappen, mas além de velocidade, um piloto também precisa ter noções táticas e saber o momento de atacar, algo que sobra para Ricciardo e falta para Verstappen, que poderia estar no pódio ou até mesmo vencendo se não fossem seus erros. A F1 volta à Europa fortalecida por duas belas corridas, sendo a segunda metade em Xangai espetacular. Da mesma forma como não devemos nos empolgar com a prova de hoje, não podemos entre em depressão com a próxima corrida morna. A F1 está chata? Não, está espetacular como sempre foi!

sábado, 14 de abril de 2018

Mundo vermelho

No momento em que o mundo respira apreensivo pelo momento de beligerância no Oriente Médio, um dos players mundiais, a China, que ainda se considera comunista, viu a Ferrari demonstrar muita força na classificação de hoje e dar um belo passo na briga particular com a Mercedes.

O treino de hoje mostrou que a Red Bull ainda está um degrau atrás de Ferrari e Mercedes, ficando isolada como terceira força, assim como aconteceu em boa parte da temporada passada. Além do mais, a Red Bull já se vê assolada pelos temidos problemas de confiabilidade do motor Renault, que quase custou uma boa posição à Daniel Ricciardo. O australiano conseguiu um tempo no Q1 de forma extrema, muito pelo belo trabalho dos mecânicos da Red Bull. Na parte de trás, a Sauber retornou à última fila, com a Williams logo à frente. Começa a chamar a atenção Sergey Sirotkin superando Lance Stroll de forma constante e com alguma distância. Não que o russo seja um ótimo piloto, mas indica que a pressa em colocar Stroll na F1 começa a virar contra o jovem canadense. Mesmo com tantos simuladores, a cancha ainda faz a diferença para um piloto de F1.

Após o resultado de sonho no Bahrein, a Toro Rosso viu Pierre Gasly ficar pelo caminho no Q1 e Hartley ficar em último no Q2. Um pouco mais à frente, uma briga enorme se desenha no pelotão intermediário envolvendo Haas, Renault, Force India e McLaren, esta, um pouco mais atrás em ritmo de classificação. Para quem esperava brigar com a Red Bull, a McLaren começa a decepcionar ficando fora do Q3 com os dois carros. A luta entre essas quatro equipes tá muito embolada e hoje quem se deu melhor foi Hulkenberg, da Renault. Já na luta pela pole, a Ferrari se mostrou bem mais rápida em todo o momento, mas quem liderava era sempre Raikkonen, porém, no famoso 'pega pra capa', Vettel foi lá e superou seu companheiro de equipe por menos de um décimo e com direito a recorde da pista quebrado. Novamente Bottas superou Hamilton e o inglês não saiu na foto dos três primeiros pela segunda corrida consecutiva, algo bem raro de se ver nos últimos tempos, assim como o tempo que a Mercedes levou da Ferrari, superior a meio segundo. Muita coisa, sem sombra de dúvida.

No entanto, fatores podem mudar esse mundo vermelho. A Mercedes assombrou a F1 na classificação de Melbourne e foi superada na corrida. As duas equipes largarão com pneus macios amanhã e a Mercedes foi mais rápida com esse tipo de borracha, o que pode indicar um ritmo de corrida melhor, mesmo com a Ferrari melhor posicionada. E por fim, há o clima. O tempo frio e nublado muda muitos os sensíveis carros de F1, além da chuva poder se fazer presente. Há equilíbrio e a briga pela vitória tende a ser quente amanhã.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

História: 20 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1998

Conta a lenda que Ron Dennis, após outra dobradinha em Interlagos vinte anos atrás chamou alguns amigos mais próximos e fez uma aposta com eles. Dez anos após a imbatível temporada 1988, a McLaren seria ainda mais perfeita e venceria todas as dezesseis corridas de 1998. Era o que apostava um confiante Ron Dennis. Observando as duas corridas anteriores, a arrogante (como sempre) aposta de Dennis fazia sentido. Foram duas dobradinhas dominantes da McLaren com os rivais mais próximos tomando uma volta. Teorias tentavam explicar tamanha diferença de desempenho entre a McLaren e os demais. Falava-se de um revolucionário sistema de freios em que Hakkinen e Coulthard poderiam controlar a frenagem do volante. Outra teoria era que os pneus Bridgestone tinham se adaptado de forma incrível ao carro projetado de Adryan Newey. Enquanto confabulavam teorias, as outras equipes procuravam formas de ganhar desempenho e na Argentina apareceram apetrechos aerodinâmicos nas laterais do carro de gosto muito duvidoso e logo apelidados de 'candelabro'. Essa corrida em Buenos Aires seria bem especial para o novato Esteban Tuero, enquanto os argentinos teriam para quem torcer dentro do Autódromo Oscar Galvéz desde Carlos Reutemann.

Tentando dar uma resposta à Bridgestone, a Goodyear trouxe pneus novos para a Argentina, mas os treinos livres foram bastante atrapalhados pela chuva e pouco se viu de evolução, mas com o clima frio, a Bridgestone não estava tão à vontade como em Melbourne e Interlagos. Até então o líder incontestável da temporada, Hakkinen não consegue um bom acerto do carro e fica de fora da primeira fila do grid pela primeira vez no ano. Coulthard ainda salvou a honra da McLaren, mas Schumacher estava ao lado do escocês, mostrando a evolução da Ferrari, que ainda tinha Irvine completando a segunda fila. O ano de 1998 seria uma disputa particular entre Ferrari e McLaren. No lugar onde havia conquistado seu primeiro pódio no ano anterior, Ralf Schumacher era o melhor do resto, enquanto Tuero era apenas 20º na classificação.

Grid:
1) Coulthard (McLaren) - 1:25.852
2) M.Schumacher (Ferrari) - 1:26.251
3) Hakkinen (McLaren) - 1:26.632
4) Irvine (Ferrari) - 1:26.780
5) R.Schumacher (Jordan) - 1:26.827
6) Frentzen (Williams) - 1:26.876
7) Villeneuve (Williams) - 1:26.941
8) Wurz (Benetton) - 1:27.198
9) Hill (Jordan) - 1:27.483
10) Fisichella (Benetton) - 1:28.836

O dia 12 de abril de 1998 amanheceu com chuva e tempo muito nublado. O warm-up, liderado por Jean Alesi, foi realizado com pista molhada, mas a chuva cessou e a corrida aconteceria com pista seca, mesmo com frio e a perspectiva de uma chuva a qualquer momento. A largada aconteceu sem maiores problemas, apesar dos irmãos Schumacher terem tido problemas, com Michael sendo ultrapassado por Hakkinen quase que imediatamente, enquanto Ralf caía de 5º para 13º.

Temendo uma nova dobradinha dominante da McLaren e sentindo que sua Ferrari não estava tão inferior na Argentina, Schumacher logo empreende um forte ataque em cima de Hakkinen. Após duas tentativas nas duas primeiras freadas da segunda volta, Michael assume a segunda posição na curva Viborita e parte para cima de Coulthard, que aproveitou a briga pelo segundo lugar para abrir 2s. Mais atrás, Irvine se recupera da má largada e pula para quarto ao ultrapassar Frentzen, rapidamente definindo a dominação McLaren-Ferrari vista desde os treinos livres durante a corrida. Claramente andando mais do que o carro, Schumacher tira a diferença para Coulthard e na volta 5, acontece a polêmica da corrida. Na entrada do hairpin Reutemann, Coulthard alarga a curva e Schumacher vê a oportunidade e coloca a sua Ferrari por dentro, porém, Coulthard resiste e o toque é inevitável. O escocês chega a levantar voo antes de rodar, enquanto Schumacher assumia a ponta da corrida. Era mais uma manobra bruta na carreira do alemão...

Hakkinen vinha num ritmo tão mais lento, que ao assumir a segunda posição já vinha 6s atrás de Schumacher, enquanto Coulthard caía para sexto. O escocês ataca Alesi, que era segurado por Villeneuve. Ultrapassar nunca foi fácil na F1... Schumacher era o piloto mais rápido na pista e abria bastante para Hakkinen, que vinha apenas 3s à frente de Irvine. Na volta 20, Schumacher erra a freada da primeira curva e frita os pneus, deixando uma clara marca na borracha. Oito voltas depois Michael faz sua primeira parada e retorna à pista em segundo, logo atrás de Hakkinen. Enquanto isso, Ralf rodava pela segunda vez e abandona pela terceira vez em 1998. Após a parada de Alesi, Coulthard fica empacado atrás de Villeneuve e por isso muda sua estratégia, ficando muito tempo parado nos pits, colocando combustível para terminar a corrida sem mais paradas. Porém, parar azar do escocês, essa era a estratégia de Villeneuve desde o início e isso era o motivo da lentidão do canadense da Williams. Quando Villeneuve fez sua única parada, ele voltou logo à frente de Coulthard, para desespero dos táticos da McLaren. Hakkinen pára na volta 42, indicando que faria uma única parada e isso significava que Schumacher teria que andar muito para se manter em primeiro no fim com uma parada a mais. 

Na volta 47, numa briga inglesa, Damon Hill tenta uma ultrapassagem desajeitada em cima de Johnny Herbert e o resultado são os dois fora da pista e fora da briga por pontos. Schumacher voava na pista e quando o alemão encontrou um grupo de três retardatários rápidos (Villeneuve, Coulthard e Fisichella), Michael resolveu parar pela segunda vez, na volta 52. Hakkinen estava com dificuldades com seus pneus e ainda perdeu tempo quando ia colocar uma volta em Ricardo Rosset. O resultado foi que Schumacher retornou à pista na liderança, com 3s de folga para o finlandês. Mostrando que aquele não era mesmo seu dia, Coulthard perdeu a paciência com Villeneuve e tentou ultrapassar o então campeão na entrada do S do Senna por fora na volta 53. O impacto foi inevitável e ambos saíram da pista, mas se Coulthard ainda pôde continuar na prova, Villeneuve abandonou ali mesmo. Faltando dez voltas para o fim, a temida chuva deu as caras no Autódromo Oscar Gálvez, mas de forma fina. Porém, o suficiente para tumultuar a prova. Schumacher aumentava sua vantagem para Hakkinen, mas mostrando o quão traiçoeira estava a pista, o alemão saiu da pista na volta 66, mas retornou tranquilamente na ponta. A melhor briga era pelo terceiro lugar entre Irvine e Wurz, que marcara a volta mais rápida da corrida. O austríaco chegou a ultrapassar o piloto da Ferrari na volta 64, mas rodou duas voltas depois na curva um, algo que seu companheiro de equipe Fisichella também faria na mesma volta. Ambos os pilotos da Benetton perderam uma posição, mas permaneceram na pista. Mesmo com os tempos despencando em mais de 10s, nenhum piloto trocou de pneus e mesmo com muitas saídas de pista, a corrida terminou com uma brilhante vitória de Michael Schumacher, estragando a aposta de Ron Dennis sobre a temporada 1998. Hakkinen chegou num obscuro segundo lugar e Irvine conseguia seu primeiro pódio do ano. Com um início de ano animador, Wurz terminou em quarto pela segunda corrida consecutiva. Com seu quinto lugar, Jean Alesi consegue seus primeiros pontos com a Sauber e Coulthard ainda salvou um ponto após uma corrida acidentada. Mesmo com Tuero tendo batido nas voltas finais por causa da chuva, a torcida argentina lotou o circuito e fez uma bela festa. Porém, uma grave crise financeira fez com que o Grande Prêmio da Argentina de 1999 fosse cancelado e o apaixonado povo argentino, louco por corridas, nunca mais fizesse parte do calendário da F1.

Chegada:
1) M.Schumacher
2) Hakkinen
3) Irvine
4) Wurz
5) Alesi
6) Coulthard

terça-feira, 10 de abril de 2018

Como nos anos 80

Além das belas corridas, da potência dos motores turbo e dos grandes pilotos, o fascínio que se tem pelos anos 80 na F1 eram também as brigas fora das pistas. Os pilotos tinham personalidade de sobra e as equipes tinham controle de menos sobre o que seus pilotos falavam, principalmente dos seus colegas de profissão. Não faltaram brigas que entraram para a história dentro, mas principalmente fora das pistas, com entrevistas cheias de cutucões e indiretas. Jones x Piquet, Jones x Reutemann, Reutemann x Piquet, Pironi x Villeneuve, Piquet x Mansell, Senna x Piquet, Prost x Senna. Todas essas brigas tiveram grandes lances dentro das pistas, mas a coisa pegava também fora delas.

A MotoGP vai vivendo uma fase dourada, com grandes disputas, ainda que falte um pouco de personalidade aos seus pilotos. A única exceção é mesmo Valentino Rossi, uma estrela que reluz praticamente sozinha sobre os demais pilotos, mesmo que o auge do genial italiano já tenha passado a muitos e muitos anos. Marc Márquez não tem um terço do carisma de Rossi, mas parece ser feito do mesmo material no quesito talento. No Grande Prêmio da Argentina desse domingo, Márquez era o grande favorito, mas uma série de problemas acabaram atrapalhando o piloto da Honda. O espanhol atrapalhou o procedimento de largada e foi punido por isso, acabando no final do pelotão no momento em que Márquez partia para a liderança e provavelmente a vitória em Termas de Rio Hondo.

Talvez frustrado por saber que tinha o melhor conjunto do dia e estar longe da vitória, Márquez partiu para uma corrida de recuperação acima do tom. Foram ultrapassagens arriscadas e toques que seriam perigosos até mesmo na F1, imagine então numa corrida de motos! Márquez parecia ter tamanha auto-suficiência, que ele simplesmente ignorava seus adversários. Foi então que Márquez encontrou pela frente Valentino Rossi, com quem não tem boa relação desde o episódio em Sepang/2015. Márquez não negociou muito (como fez a prova toda) e foi logo colocando por dentro em cima da Yamaha de Rossi, derrubando o italiano numa manobra kamikaze. Justamente, Márquez foi punido depois da corrida e ficou zerado em pontos. Quando chegou aos boxes, tentou pedir desculpas à Rossi, mas acabou expulso do recinto da Yamaha.

Porém, o mais quente estava por vir.

Rossi não poupou críticas às atitudes de dentro da pista Márquez, falando que o piloto da Honda estava destruindo o esporte além de dizer que faltavam huevos para Márquez, pois quando foi ao box da Yamaha, o espanhol chegou acompanhado de seu staff da Honda. Márquez não deixou barato e deu várias cutucadas na réplica.

Resultado? Será bastante esperado o próximo encontro entre Rossi e Márquez dentro da pista e as possíveis consequências, com todo mundo acompanhando de perto as corridas seguintes da MotoGP. Muita gente reclama dessas batalhas entre os dois pilotos, mas Carmelo Ezpeleta, dono da Dorna e promotor da MotoGP, deve estar adorando, pois a audiência não deverá ser pequena com mais essa batalha entre os dois supercampeões da MotoGP. 

Isso, sem contar a cada vez mais quente disputa interna dentro da Ducati, com Lorenzo já começando a se incomodar em não andar no ritmo de Doviziozo...

Como anos 80 na F1, a MotoGP está nos brindando com vários grandes nomes digladiando dentro e fora das pistas!